HONDA
CIVIC 1.7 2002 PGMFI NÃO PEGA QUANDO FRIO ( CASO DE ESTUDO )
O proprietário desse
Civic ligou dizendo que o carro não pegou, disse que simplesmente guardou na garagem e pela manhã não funcionou. Disse também que na manhã anterior teve uma partida difícil porém após funcionar andou normalmente o dia inteiro. Realizei os testes básicos, injetores, pulso dos injetores e centelha normal porém o motor de partida girava dando uns trancos como se o motor estivesse fora de ponto. Levado para a oficina para realização de testes e verificado com scanner, não foi encontrado nenhum código de avaria e todas as leituras estavam normais. Pressão e vazão de combustível normais e velas eram novas. Poderia ser alguma bobina causando algum tipo de interferência mas visualmente não tinham nenhuma marca de fuga de alta tensão. O próximo passou foi usar o osciloscópio para analisar os sinais de rotação e fase e também definir o ponto de ignição, se estava ocorrendo no momento certo. O pms do cilindro 1 é identificado pela passagem do dente do comando do válvulas que acompanha um dente pequeno, como podemos ver na foto 1:
Abaixo foto 2 do meu arquivo de imagens capturada desse motor em um reparo anterior quando ele apresentava um bom funcionamento.O dente rosa do canal 3 é o pulso de 5 volts enviado pelo módulo para a bobina 1 e o final desse dente é o momento do disparo de alta tensão. Essa imagem foi feita na partida e dá pra ver que o disparo de alta tensão acontece alinhado com o dente pequeno do comando de válvulas.
Já na foto 3 abaixo vemos que por algum motivo o disparo da bobina 1 não está ocorrendo no momento certo, não está posicionado no cilindro 1.Está totalmente fora do sincronismo, o motor chega mesmo a travar durante a partida.
Durante os testes na partida, o motor pegou. Novamente visto no scanner nenhum dtc registrado e todas as leituras corretas. O motor aquecido não apresentava o defeito. Pegava fácil. Assim eu teria que esperar a manhã seguinte pra prosseguir nos testes. Então tive a ideia de simular o motor frio com uma década resistiva conectada no lugar do sensor de temperatura da água pra ver se o defeito aparecia. As temperaturas aqui no Sul andavam baixas, ao redor de 10 graus. Então essa foi a temperatura escolhida. Ao dar a partida o motor não pegou e dando trancos. Assim ficou claro que não era o frio que causava o problema mas o frio visto pelo módulo. A partir daí o carro se comportou de uma forma bem intrigante. Simulava 10 graus não pegava, simulava 20 graus pegava na hora, voltava pra 10 graus não pegava. Parecia que alguma estratégia do módulo para a partida a frio não estava dando certo. Ou poderia ser defeito no módulo. Assistindo um caso de estudo americano de um
civic que pegava e morria por sincronismo mecânico errado, percebi que nessa situação o módulo podia se perder e disparar a centelha no cilindro errado. Foto 4
Assim o defeito poderia estar relacionado ao sincronismo mecânico, sensor de rotação ou fase. Um colega de profissão que pratica o mesmo tipo de diagnóstico enviou uma imagem de um
civic em perfeito funcionamento, assim não foi necessário desmontar nada para certificar que o sincronismo mecânico estava correto.( Agradecimento a Mecânica Xavier ) Na foto 5 abaixo comparativo ente a imagem enviada pelo colega à esquerda e do
civic em minha oficina. Observem que os dentes estão com tamanhos diferentes nas imagens comparadas, pois estão com tempo por divisão e voltagem por divisão diferentes. Isso não interfere no diagnóstico porque o objetivo é verificar o posicionamento dos dentes do sensor cmp (fase) com os dentes do sensor ckp(rotação).A linha vertical vermelha mostra essa verificação.
Analisando mais atentamente CKP E CMP, verificou-se que CMP estava se comportando de maneira suspeita durante o funcionamento. Como na foto 6 abaixo, de repente aparece um dente bem largo.
E na foto 7 o dente estreito fica quase o tamanho dos outros quatro.
Tambem durante várias partidas com os injetores desligados para o motor não funcionar, foi encontrada essa anomalia no sinal de fase: dois dentes estreitos. Foto 8
Isso é o suficiente para o módulo se perder na identificação dos cilindros, e também pra condenar o sensor de fase. Na foto 9 sinal de fase normal após a troca do sensor defeituoso.
Sensor substituído foto 10
Considerações finais
Porque ocorria na fase fria? Isso não ficou muito claro, mas provavelmente está ligado ao avanço de ignição, já que nos meus testes foi verificado um avanço maior na fase fria em função de uma mistura mais rica.
O scanner é uma ferramenta indispensável para a oficina, mas em alguns casos ajuda pouco ou nada no diagnóstico. Como nesse caso, serviu apenas pra monitorar a temperatura recebida pelo módulo.Em momento algum apareceu DTCs ou leituras incorretas.
Identificada a condição em que o defeito ocorre, e tentar criar essa condição pode agilizar o diagnóstico. Como simular o motor frio em vez de esperar esfriar.
Observando a engrenagem do comando e as imagens de osciloscópio parece que o dente estreito deveria vir primeiro, mas ocorre que esse motor gira ANTI-HORÁRIO.
O osciloscópio, ainda que aplicado em testes básicos pode auxiliar em muito o técnico reparador. Como nesse caso o sensor de fase custa cerca de 800 reais, ficar trocando peças pra ver o que acontece não é uma solução muito econômica.